sábado, 18 de dezembro de 2010

Cinema: dos Lumiére à "Avatar"

        O cinema é tido como a única das sete artes com data de nascimento. Porém, sua origem é, para muitos, ainda controversa. Os irmãos Lumiére (um físico e o outro químico), em 28 de dezembro de 1895, exibiram pela primeira vez imagens em movimento, deixando pra trás a aclamada fotografia.


 Cena de "A chegada do trem à estação da luz", primeiro filme da história, feito pelos irmãos Lumiére.


Tais imagens eram capturadas pelo que eles chamaram de cinematógrafo, uma câmara escura, que graças a reações químicas capturavam as cenas. O cinematógrafo, porém, era apenas uma melhoria de um equipamento inventado por Thomas Edison, o cinetoscópio, objeto muito similar ao dos irmãos franceses.


Foto do relojoeiro e cineasta Ludovico Persici com um cinematógrafo


Os curtas gerados naquela época duravam menos de um minuto, mas já cobrava-se ingresso para sua exibição, iniciando, assim, a comercialização da imagem.

       Há, também, uma corrente que afirma que a invenção do aparelho seria de dois irmãos italianos que, depois que os Lumiére "roubaram" sua obra-prima, trouxeram o cinema para o Brasil. O primeiro filme brasileiro foi exibido em julho de 1896, poucos meses após a primeira exibição mundial do cinema. Os primeiros filmes gravados no Brasil, feitos pelo cineasta Affonso Segretto, ajudariam o Brasil a alcançarem notoriedade no panorama mundial. 

Durante os anos, como todas as artes, o cinema foi se aprimorando e alcançando novos níveis. Os filmes ficaram mais longos e eram rodados com fitas de melhor qualidade. E, nos anos 30, chegou às telas o som. Dessa época, grandes cineastas se distacaram, como Humberto Mauro, Nelson Pereira dos Santos e, nos anos 40, Glauber Rocha.

Os primeiros recursos de efeitos especiais já podiam ser vistos em filmes como "Viagem à lua", de Georges Méliès, adaptação de uma história de Julio Verne. É considerado o primeiro filme com efeitos especiais do mundo, daqueles de disco voador sendo balançado por fios de náilon, sabe?  Mas é incrível, vejam no you tube. 



Cena do filme "Viagem à lua", de Georges Méliès.

         Desde Méliès, as tecnologias audiovisuais foram se aperfeiçoando até que chegamos ao cinema 3D.  Descobriu-se que cada olho vê a mesma cena de ângulos diferentes e, que, juntos, criam a profundidade e realismo das imagens. O cinema 3D se dá exatamente dessa forma: geram-se duas imagens, uma para cada olho, da mesma cena, que, alinhadas horizontalmente, criam um visual inimaginável! É a chamada  "estereoscopia". Por isso os óculos especiais são necessários, para que cada olho veja apenas a cena que lhe pertence. O cérebro processa o resto. Incrível, né?




No mercado da alta tecnologia, já existem alguns modelos de câmera 7D sendo vendidos!!

A tecnologia modifica até mesmo o trabalho dos atores. Filmes como "A casa monstro" , "O senhor dos anéis", "King kong" e o próprio Avatar, pra não citar inúmeros outros, utilizaram o sistema de captação de imagens e expressões corporais e faciais conhecido como CGI. São instalados sensores de movimento por todo o corpo dos atores em um traje especial e câmeras que captam suas expressões faciais. Depois, tudo é jogado no computador e o filme cria forma na iha de edição, onde as imagens e movimentos captados se transformam em criaturas fantásticas e monstros incríveis, sem perda de identidade e personalidade dos atores. Genial!!






O ator Andy Serkis interpretando "King Kong" e "Gollum", respectivamente, através dos sistema de captação de movimento.



A aposta nas pesquisas americanas em audiovisual é para um cinema 10D (!!!!). Sentiríamos cheiros, gostos , mudanças térmicas, as poltronas balançariam e muito mais!! Por isso, já existem milhares de fóruns de discussão perguntando se tais técnicas acabariam com a magia do cinema ou se a intensificariam.

 Acredito ser possível amar "Viagem à lua" e "Avatar" ao mesmo tempo, entendendo as limitações de cada época e a transformação tecnológica envolvida em ambos. É fantástico ver como a tecnologia ajudou a melhor a boa e velha "contação de histórias".

Acredita-se que em dez anos "Avatar" será apenas um filminho de ficção de segunda classe com homenzinhos azuis. Você consegue imaginar o blockbuster de 2020??

domingo, 5 de dezembro de 2010

A esquina

          Viro a esquina e me deparo com um senhor vestido em trapos, mal-cheiroso, descalço, balançando uma caneca à sua frente. Uma placa no chão diz: "Me ajude a ver a esperança". Olho pra seu rosto e percebo que ele é cego. Seus olhos estão envoltos num pano tão sujo quanto qualquer outro em seu corpo. As moedas jogadas insensivelmente em sua caneca fazem um barulho que aos poucos enlouquece. Como ele aguenta tanto tempo? Olho meu jornal e a manchete chega a ser ridícula. "Governador indiciado por desviar verbas da Previdência". "Não me diga", penso, revirando os olhos. Apesar da pasta numa mão e o jornal com o café em outra, procuro nos bolsos o troco da manhã. Acho umas moedas perdidas no paletó e as coloco na caneca. O barulho chama a atenção do idoso, que as retira do recipiente e tateia, tentando identificar seu valor. Sinto-me mal. Abro a carteira, com dificuldade, e retiro uma nota de pequeno valor. Vou em direção a ele, pego sua mão, ele se assusta. "Calma, senhor, quero lhe dar uma coisa", e coloco o dinheiro em sua palma. Deixo ao seu lado, também, meu copo de café. Vejo-o levantar as sobrancelhas, curioso. Pega o café com desconfiança, mas a fome fala mais alto: ele bebe. Sorri. Eu sorrio de volta. Olho o relógio e meu coração dispara. Vou chegar atrasado ao trabalho. Atravesso a rua correndo e entro no Fórum.

           Mesmo horas depois de trabalho intenso e dias de correria, a imagem daquele mendigo não me saía da cabeça. Passei a encomendar dois pratos de comida; um pra mim e um pra ele. O boy da empresa se encarregava de entregar e, da janela do meu escritório, via-o comer rapidamente a solidariedade que alguém lhe enviara. O sorriso que se instalava em seu rosto era impagável. Tão pouco o fazia sorrir! Ele devia se perguntar quem era a boa alma que o alimentava. EU me perguntava quem era aquele homem que mudara meus conceitos e meu modo de enxergar o mundo. Porque, no fim, das contas, ele não estava ali por acaso; o tapa na cara com luva de pelica que me deu foi mais poderoso do que qualquer lição que a vida poderia ter me dado. Afinal, fora ele quem me fizera ver a esperança, fora ele quem mudara a minha vida, e não o contrário.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Mataro as criança

Bom, galera, espero que gostem do meu novo conto. Ganhei o segundo lugar no Concurso da Revista Cultural em parceria com a UERJ - FFP com ele. Dêem sua opinião!!!



Mataro as criança

Sinto que morro aos poucos. Não de velhice ou de morte morrida. Sofro de uma síndrome que, aos poucos, mata o mundo. Uma epidemia tão cruel que passa, cínica, pela massa. Sofro de infância perdida. Sofro de sonhos acordados, de fantasias extintas, de castelos inundados. Sofro de realidade aguda, de risos amarelos e de olhares amedrontados. Medo de descobrir que a Fada dos Sonhos não existe de fato. De acordar de repente e ver que a vida da gente não passa de um trem descarrilhado.

- Uma passagem à Ilha da Fantasia, por favor.
- Desculpe, moça. Acabô.
- Como assim, acabou?
- Essa Ilha num existe mais não.
- Não existe mais? O que aconteceu?
- Foi atacada pelos Guerrilhero. Mataro o Rei dos Sonhos e tacaro fogo na coitadinha. Num sobrô nada nem pros meus filho vê.
- Mas que coisa horrível! E pra onde eu vou agora?
- Ah, tem vários lugá em promoção. Afeganistão, Bogotá, Rio de Janeiro, Serra Leoa. Tenho certeza que a senhora vai gostá.
- Mas esses lugares estão em guerra! Não posso ir pra lá!
- Ih, minha senhora, o mundo todo tá em guerra. A gente não tá seguro, não. Seguro, só aquela gente que dá notícia dentro da tevê. Pra eles tá tudo bem. Guerra é só foto e depoimento. A gente tá sozinho nessa, dona. Aquela Ilha era o único lugá que a gente tinha. Mas mataro a Fantasia. Agora é só guerra mesmo. Cachoeira, só se for de sangue. Bicho, só se fô os armado, que mata os irmão.
- E o que eu faço agora?
- Foge pra dentro, dona. Num tem outro jeito, não.
- Mas, pra dentro de onde?
- Da gente mesmo. A Lembrança é a Fantasia que sobrô. A Saudade é a Ilha que eles num conseguiro queimá. Por isso que eles queimaro aqueles livro todo, dona. Purquê aí as criança só tem tevê, num brinca mais na rua, num tem mais história pra durmí. Eles qué é brincá de arma, matá passarinho... Num qué sabê de princesa, não. Trocaro as fada pelos vampiro. Eles mata a sede cum sangue, o sangue das criança. Pur isso é que eu digo, dona, foge pra dentro da senhora. Tranca seus filho em casa, conta história de super-herói, purquê lá fora tem vilão querendo pegá eles. A gente tá perdido, dona. Mataro a Esperança lá na Ilha. Agora o rei das Arma é que manda, num tem jeito, não.

Sofro de realidade crônica, de desapego forçado. Sofro de inutilidade pública, de desamparo, de saudade. Saudade daquele tempo em que se procurava ovo de Páscoa seguindo as patinhas do coelho. Sofro de hematofobia. Chega de sangue, eu quero a Ilha de volta. Aquelas das viagens de minha infância, quando o Rei dos Sonhos abraçava quem chegava; quando a gente ria e voava de mãos dadas pelo Jardim das Flores. Pobre Affonso Sant'Anna e seu Jardim da Infância...
Sofro de adulteza em primeiro grau, de pureza tirada. Vivo com aquele ar amedrontado. Medo de que o Rei dos Sonhos tenha mesmo morrido. Medo de perder a criança escondida no fundo da alma.

Ana Carolina. 05/10/2009.

domingo, 5 de julho de 2009

Pedras



Há uma pedra à beira-mar
Encharcada pelas ondas,
Sozinha ao luar
Corroída pelo vento,
Imobilizada pela areia
E nessa mesma areia
Jazem ali suas irmãs
Que não resistiram ao tempo e ao vento,
Mas que nunca deixarão de ser pedras...

Ana Carolina, 27/12/2004

Pobres crianças travessas

Criança travessa
Que cruza a avenida
Sua bola no braço
Sorriso de menino
Caminha pela rua
Alegre a cantar
Assovia um hino
Mas, não para de andar
Distraído e sapeca,
A caminho do campinho
Jogar bola com os amigos
Coisas de menino
A namoradinha quando o vê
Desata a suspirar
A cada gol que ele perde,
Ela começa a chorar

Pobres crianças travessas
Vivendo a sonhar
Crescendo e aprendendo
Começando a amar.

Ana Carolina, 21/11/2003.

O monstro de Notre Dame

Não ria.
Não tire fotos.
Oh, vida cruel!
Ser apontado.
Ser comentado.
Me julgam sem ao menos me conhecer.
O monstro na Catedral.
Inibido,repreendido.
As cicatrizes da punição por ser tão diferente
Fazem de sua imagem um horror.
Aborto.
Erro de Deus.
Ele chora,
Mas, não é sua culpa.
Apontado, comentado,.
Ele não vive, só existe.
Toca o sino.
Suspira sua musa.
Sonha que é belo
E que ela o olha sem pena.
Esmeralda!
Não olhe pra mim!
Sou um monstro!
Nada posso fazer.
Só me escondo.
De todos e de mim mesmo.

Não ria.
Não tire fotos.
Não tenha pena.
Me julgam sem me conhecer.
Mas, o que fazer, afinal?
Sou apenas o monstro da Catedral...

Ana Carolina, 12/09/2007

Sabedoria

O que vou te dizer é algo bem simples,
Que levará consigo por toda a vida,
Enquanto seu sentido entender:
O amor se encontra por acaso,
Não se deve procurá-lo ou o ignorar
Senão qual seria a graça
De ele de repente chegar?

Assim como o tempo muda,
A vida dá voltas.
Se hoje recusas ajuda,
Amanhã te darão as costas.

Se ignoras o amor, como queres a felicidade?
Se só plantares o rancor, sofrerás a eternidade.

Sofrimento que não acaba
Dor de alma e coração
Apenas uma coisa apaga;
Nada além do perdão.

Perdão que não dura
Tanto quanto o rancor
Que destrói muitas vidas
Que não plantaram o amor.

Um amor que não se vende
E que pode ser o curador
Do coração de um homem
Que não conheceu o amor.

Ana Carolina, 06/06/2004