sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sobre professores e alunos...


Pés pro alto. Dez horas em pé pra lá e pra cá em salas de aulas. A dor lateja. "Não pode sentar". Alunos novos te olham desconfiados. Alunos antigos vêm visitar e papear. E como sempre, ao final de cada aula, eu reflito sobre o Magistério e suas consequências. "Qual foi o ponto alto da minha aula? O que foi ruim? O que eu posso mudar pra próxima vez? O que posso fazer pra melhorar a performance daquele aluno? E abaixar a bola daquele outro?" Tantas questões... E, no fim de tudo, reflito sobre meu trabalho; minha postura, minhas colocações, o modo de conduzir a matérias e as conversas dos alunos, em que dar mais ênfase - a um questionamento que surgiu na aula mas que vai atrasar o planejamento da matriz ou embarcar numa discussão sobre um tema espontâneo e fazer da sala de aula algo mais?

E, em meio a reflexões, burocracias e tensões ideológicas entre executores e idealizadores afastados da sala de aula, eis que pequenas atitudes te fazem ganhar o dia. A semana. O mês. Um convite pra casamento. Uma foto no corredor. Abraços no fim das aulas. Um "obrigada pela aula, teacher". Um "bom fim de semana, Carol". Caramba, é muito fantástico!!

Um professor que se coloque num pedestal e assuma pra si uma posição de poder e de "não quero me relacionar com meus alunos" perde esses momentos preciosos. A aproximação com outro ser humano é o carro-chefe das relações desde que o mundo é Mundo. E é isso o que eu sou na sala de aula, afinal: um ser humano falando para outros seres humanos; e junto também. Com falhas, com problemas, com dores, com incertezas e com fracassos. E é justamente essa aproximação ou "humanização" que permite aos alunos que perdoem minhas falhas, problemas, dores, incertezas e fracassos. Que permite que eles se identifiquem, que se sintam próximos pra revelar suas próprias incertezas, medos, frustrações e dúvidas. E a gente se ajuda. E a gente descobre uma saída juntos. E a gente erra junto.

O entendimento e a humildade de não se dizer dono da verdade traz uma liberdade de aprendizado incrível. Não, não sei tudo. Ninguém sabe. E seria muito chato saber, porque uma vida sem objetivos e sem mistérios não é uma vida em si. É preciso questionar nosso papel no mundo. E talvez eu questione demais. Olhar 10, 20, 30 rostos olhando pra você, esperando algo de você, é assustador. Como uma inesquecível professora de matemática que eu tive disse uma vez "é preciso ter muito colhão pra ficar lá na frente de todo mundo aula após aula". Nunca me esqueço disso. Mas mais do que "colhão", digo que é preciso ter coração. Se não amar o que faz, faz-se mal. Se não amar se doar pros outros, não se terá experiências cativadoras. Se não achar que mudará alguma coisa, talvez realmente não mude. Ser professor pra mim é mais do que profissão, vocação ou talento. É... espiritualidade. É um ser encontrando o outro, e se auxiliando mutuamente. Assim como eu ensino algo a eles, eles ensinam-me infinitamente mais. Como chegar em cada um deles. Como ajudar cada um deles. Me ensinam a compreender a minha profissão através de experiências novas a cada semestre. Me ensinam sobre mim mesma. Me ensinam sobre o mundo. Me põem a par do que está acontecendo quando eu não sei (Quem é Ed Cheeran?). Me mostram que sempre há algo de novo no velho mesmo. Me relembram que nos conectarmos com o próximo é o escape que falta no mundo, que relações superficiais não bastam pra caminhar por aí. É preciso se desprender da boia que te prende à superfície e se permitir um mergulho desbravador. E cada pessoa é um oceano profundo.

Ajudar uma pessoa a alcançar um sonho, a ultrapassar uma limitação, a vencer desafios é... mágico. E agonizantemente perturbador. A responsabilidade de tamanha função me dá um orgulho danado dos meus colegas de trabalho e de meus antigos professores, a quem observava e observo com certa intimidade e admiração. Cada um com sua batalha e sua força, vencendo suas próprias indagações, obstáculos e o que quer que apareça.

Não sei por que escrevi esse texto. Talvez tenha acordado melancólica. Talvez estivesse muito tempo sem escrever e as palavras me possuíram. Também não sei como terminá-lo. Possivelmente o deixarei em aberto. Com as reticências que encontramos ao fim de cada dia e que mantém o Universo funcionando.
Ou seria um ponto de interrogação?...

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